quarta-feira, 8 de agosto de 2012

Entrevista com o Poeta


O Blog do Coletivo Saber e Poesia a partir deste mês, entrevistará mensalmente um Professor Poeta. Este novo quadro tem estreia com o Educador Evanilson Tavares, da Escola Estadual John Kennedy, a quem a Poesia e os Poetas agradecem a participação!

Evanilson Tavares de França - Professor Poeta

1. Seu nome completo, data de nascimento, idade e cidade onde nasceu?

Evanilson Tavares de França. Nascido em 15 de outubro (Dia do Professor!) De 1965. Tenho 46 anos e fui “dado à luz” em Penedo-AL. Mas como todo bom brasileiro pobre, naquele período, minha Certidão de Nascimento somente foi oficializada em Aracaju-SE, quando eu já contava três anos, por isso sou naturalizado sergipano.


2. Rede Pública onde Trabalha e tempo na carreira docente?

Sou Professor e Pedagogo da Rede Pública Estadual (Sergipe). Estou lotado no Colégio Estadual John Kennedy. Meu primeiro vínculo é de 1998 e o segundo, de 2006. Entretanto, quando ainda não havia a exigência de concurso público, trabalhei mais de doze no Estado: ingressei em 1985 e aderi ao PDV em 1997.

3. Quando descobriu a sua aptidão para escrever?

Sempre: Graças ao meu romantismo. Enquanto os colegas jogavam bola ou brincavam de bolinha de gude, eu fazia poemas para as meninas pelas quais me apaixonava (e eu me apaixonava sempre – sem que houvesse correspondência, infelizmente). Minha primeira influência foi o sofrido Álvares de Azevedo. Agora gosto de tantos, mas confesso ter “uma queda” por Bandeira.

4. Com que frequência escreve? Qual sua principal fonte de inspiração?

Ah, não tanto quanto no início. Componho, em média, um poema por mês. Minha fonte de inspiração é o mundo (a vida!) – como todo Poeta: as dores e flores que nele germinam – e como tem sido doído o mundo.

5. O que acha da relação Poesia e Militância?

Embora concorde que a arte não deve ter, obrigatoriamente, compromisso com a militância, prefiro o/a artista que denuncia, que se indigna, que confronta, que lança mão da arte para contribuir com a construção de um mundo inclusivo, equânime.

6. Cite os seus principais poemas e o fato mais marcante da Poesia em sua vida.

Todos os meus poemas são “principais”, encantam-me e roubam todo meu ser, embora alguns, com o tempo, em minha opinião, pareçam ultrapassados, ideologicamente falando. Mas para atender ao seu pedido: “Quem secará a última lágrima”, “Boneco de Pano”, “Terceiro Estágio” (premiado), “Em busca de mim”, “Oração para Mãe enferma”,...

7. Já trabalhou, trabalha ou tem interesse em trabalhar com a Poesia em sala de aula? Caso a resposta seja sim, descreva brevemente o trabalho e o resultado.

Já trabalhei e continuo a fazê-lo. Coordeno um projeto denominado “O mundo da Leitura é a Leitura de todo Mundo” que, como explicita o título, explora o texto em suas mais variadas dimensões. Além disso, criei e dirijo (na mesma escola: John Kennedy) um grupo de teatro cujas peças teatrais resultam de diálogo com poetas e pensadores. Por exemplo: em 2010, montamos o espetáculo “Texto e Contexto” a partir da obra de Vinícius de Moraes; em 2011, estabelecemos um diálogo entre Castro Alves, Luther King e Nelson Mandela – o que deu origem à peça “Alma Africana”; este ano estamos ensaiando o texto “Solano Trindade – uma alma negra” que tenta resgatar um pouco da luta e produção do poeta pernambucano.

8. Tem algum tema que tenha interesse em escrever?

Gosto de falar do Amor (com dor ou não); doutro lado e com o mesmo desejo componho poemas que denunciam, que levantam bandeiras imprescindíveis para os/as trabalhadores/as.

9. Como você acha que os gestores poderiam valorizar a Poesia Popular nas Escolas Públicas?

Amo Educação – é minha vida. Amo ainda mais a Escola (a Escola Pública!). E como um apaixonado que crê e defende uma Escola Pública Popular, penso que o trabalho com texto, não importa a adjetivação, é imprescindível – entretanto, precisa ser definido/construído com o coletivo da escola (envolvendo a comunidade escolar e local). Creio que o espaço/tempo pedagógico é também o ambiente natural do texto, poesia ou não. E esse texto deve ter diversos nascedouros, especialmente o/a educando/a. Não entendo porque os/as professores/as não colocam nas suas provas (e outros) produções textuais dos/as educandos/as para interpretação: isto elevaria significativa a autoestima de meninos e meninas, além de construir pontes prazerosas entre estudantes e a leitura/escrita. O projeto que me referi anteriormente, “O Mundo da Leitura é a Leitura de todo Mundo”, transita, também, por estas estradas.

10. Considerações finais: deixe uma mensagem ou algo que tenha interesse em divulgar.

Gosto de pensar que é possível, juntos, construirmos uma Escola Pública de Qualidade Social. E uma Escola assim entende que seus pensares e fazeres são construídos no coletivo, democraticamente; uma Escola assim contribui para a formação de Cidadãos Ativos, de Sujeitos e não de objetos.

Gosto de pensar que a Escola Pública é espaço/tempo de empoderamento daqueles e daquelas que, historicamente e de forma astuta, são excluídos dos avanços sociais, mesmo tendo sido construtores destes mesmos avanços (veja-se o que ocorreu/ocorre com a população negra). Para tanto, creio, a Escola precisa converter-se em trincheira de combate às injustiças sociais – o que deve ser feito a partir da elaboração coletiva de um projeto político-pedagógico conscientemente implicado, ou seja, nutrido por concepções/ações alinhadas com os movimentos sociais, com a luta dos trabalhadores: os conteúdos escolares precisam, urgentemente, de reorientação. É possível, apenas para citar um exemplo, ensinar História a partir da caminhada dos movimentos sindicais ou do lócus dos excluídos, dos marginalizados. Outro exemplo que considero imensamente saudável: os africanos criaram e criam matemática, os índios também (as pesquisas da Etnomatemática o comprovam), mas insistimos em trabalhar uma matemática produzida quase que totalmente por europeus; como se trata de disciplina de valorização social imensurável constrói-se uma hierarquia que inferioriza africanos, asiáticos e latino-americanos – o que é negativo para a construção da identidade pessoal, etnicorracial e nacional.

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