O Blog do Coletivo Saber e Poesia a partir deste mês, entrevistará mensalmente um Professor Poeta. Este novo quadro tem estreia com o Educador Evanilson Tavares, da Escola Estadual John Kennedy, a quem a Poesia e os Poetas agradecem a participação!
Evanilson Tavares de França - Professor Poeta |
1. Seu
nome completo, data de nascimento, idade e cidade onde nasceu?
Evanilson
Tavares de França. Nascido em 15 de outubro (Dia do Professor!) De 1965. Tenho
46 anos e fui “dado à luz” em Penedo-AL. Mas como todo bom brasileiro pobre,
naquele período, minha Certidão de Nascimento somente foi oficializada em Aracaju-SE, quando eu já contava três anos, por isso sou naturalizado sergipano.
2. Rede Pública onde Trabalha e tempo na carreira docente?
Sou Professor e Pedagogo da Rede Pública Estadual (Sergipe). Estou lotado no Colégio Estadual John Kennedy. Meu primeiro vínculo é de 1998 e o segundo, de
2006. Entretanto, quando ainda não havia a exigência de concurso público,
trabalhei mais de doze no Estado: ingressei em 1985 e aderi ao PDV em 1997.
3. Quando
descobriu a sua aptidão para escrever?
Sempre:
Graças ao meu romantismo. Enquanto os colegas jogavam bola ou brincavam de
bolinha de gude, eu fazia poemas para as meninas pelas quais me apaixonava (e
eu me apaixonava sempre – sem que houvesse correspondência, infelizmente).
Minha primeira influência foi o sofrido Álvares de Azevedo. Agora gosto de
tantos, mas confesso ter “uma queda” por Bandeira.
4. Com que frequência
escreve? Qual sua principal fonte de inspiração?
Ah,
não tanto quanto no início. Componho, em média, um poema por mês. Minha fonte
de inspiração é o mundo (a vida!) – como todo Poeta: as dores e flores que nele
germinam – e como tem sido doído o mundo.
5. O que acha da
relação Poesia e Militância?
Embora
concorde que a arte não deve ter, obrigatoriamente, compromisso com a
militância, prefiro o/a artista que denuncia, que se indigna, que confronta,
que lança mão da arte para contribuir com a construção de um mundo inclusivo,
equânime.
6. Cite os seus
principais poemas e o fato mais marcante da Poesia em sua vida.
Todos
os meus poemas são “principais”, encantam-me e roubam todo meu ser, embora
alguns, com o tempo, em minha opinião, pareçam ultrapassados, ideologicamente
falando. Mas para atender ao seu pedido: “Quem secará a última lágrima”, “Boneco
de Pano”, “Terceiro Estágio” (premiado), “Em busca de mim”, “Oração para Mãe
enferma”,...
7. Já trabalhou,
trabalha ou tem interesse em trabalhar com a Poesia em sala de aula? Caso a
resposta seja sim, descreva brevemente o trabalho e o resultado.
Já
trabalhei e continuo a fazê-lo. Coordeno um projeto denominado “O mundo da Leitura
é a Leitura de todo Mundo” que, como explicita o título, explora o texto em
suas mais variadas dimensões. Além disso, criei e dirijo (na mesma escola: John
Kennedy) um grupo de teatro cujas peças teatrais resultam de diálogo com poetas
e pensadores. Por exemplo: em 2010, montamos o espetáculo “Texto e Contexto” a
partir da obra de Vinícius de Moraes; em 2011, estabelecemos um diálogo entre Castro
Alves, Luther King e Nelson Mandela – o que deu origem à peça “Alma Africana”;
este ano estamos ensaiando o texto “Solano Trindade – uma alma negra” que tenta
resgatar um pouco da luta e produção do poeta pernambucano.
8. Tem algum tema que
tenha interesse em escrever?
Gosto
de falar do Amor (com dor ou não); doutro lado e com o mesmo desejo componho
poemas que denunciam, que levantam bandeiras imprescindíveis para os/as trabalhadores/as.
9. Como você acha que
os gestores poderiam valorizar a Poesia Popular nas Escolas Públicas?
Amo
Educação – é minha vida. Amo ainda mais a Escola (a Escola Pública!). E como um
apaixonado que crê e defende uma Escola Pública Popular, penso que o trabalho
com texto, não importa a adjetivação, é imprescindível – entretanto, precisa
ser definido/construído com o coletivo da escola (envolvendo a comunidade
escolar e local). Creio que o espaço/tempo pedagógico é também o ambiente
natural do texto, poesia ou não. E esse texto deve ter diversos nascedouros,
especialmente o/a educando/a. Não entendo porque os/as professores/as não
colocam nas suas provas (e outros) produções textuais dos/as educandos/as para
interpretação: isto elevaria significativa a autoestima de meninos e meninas,
além de construir pontes prazerosas entre estudantes e a leitura/escrita. O
projeto que me referi anteriormente, “O Mundo da Leitura é a Leitura de todo Mundo”,
transita, também, por estas estradas.
10. Considerações
finais: deixe uma mensagem ou algo que tenha interesse em divulgar.
Gosto
de pensar que é possível, juntos, construirmos uma Escola Pública de Qualidade Social.
E uma Escola assim entende que seus pensares e fazeres são construídos no
coletivo, democraticamente; uma Escola assim contribui para a formação de Cidadãos
Ativos, de Sujeitos e não de objetos.
Gosto
de pensar que a Escola Pública é espaço/tempo de empoderamento daqueles e
daquelas que, historicamente e de forma astuta, são excluídos dos avanços sociais,
mesmo tendo sido construtores destes mesmos avanços (veja-se o que
ocorreu/ocorre com a população negra). Para tanto, creio, a Escola precisa
converter-se em trincheira de combate às injustiças sociais – o que deve ser
feito a partir da elaboração coletiva de um projeto político-pedagógico
conscientemente implicado, ou seja, nutrido por concepções/ações alinhadas com
os movimentos sociais, com a luta dos trabalhadores: os conteúdos escolares
precisam, urgentemente, de reorientação. É possível, apenas para citar um
exemplo, ensinar História a partir da caminhada dos movimentos sindicais ou do lócus
dos excluídos, dos marginalizados. Outro exemplo que considero imensamente
saudável: os africanos criaram e criam matemática, os índios também (as
pesquisas da Etnomatemática o comprovam), mas insistimos em trabalhar uma
matemática produzida quase que totalmente por europeus; como se trata de
disciplina de valorização social imensurável constrói-se uma hierarquia que
inferioriza africanos, asiáticos e latino-americanos – o que é negativo para a
construção da identidade pessoal, etnicorracial e nacional.
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